Luan Raithz

Servidão comprada

August 05, 2021

A modernidade nos presenteou com algo mais extremo do que apenas comprar para ter prazer (consumismo): confortos com serviços oferecidos que, além de destruir habilidades básicas, criam um sistema que nos sujeitamos a qualquer coisa para mantê-lo rodando .

O consumista tinha uma dependência emocional com a suas compras, tendo que comprar para se sentir satisfeito. Agora, com os serviços oferecidos, o escravo das escolhas (como vou chamar daqui para frente), tem não apenas a dependência emocional, mas também uma dependência prática. O consumista podia simplesmente parar, para o escravo das escolhas o passar do tempo nesse estado deixa mais difícil a sua independência. Cada vez mais, suas habilidades básicas vão sendo esquecidas, ou melhor, “racionalmente” desaprendidas.

Pessoas não querem mais dirigir pela facilidade, conveniência e economia (em um sentido racionalista), de não ter um carro e sempre chamar aplicativos de locomoção. Não querem mais cozinhar por “valorizar o tempo” ou “ter algo melhor para fazer” (sempre). Há algo oculto nessas escolhas, por exemplo, quando você cozinha, não está apenas fazendo algo para saciar-se, está também melhorando uma habilidade impossível de precificar e extremamente útil.

Além de estar completamente dependente do “sistema”, o escravo das escolhas ainda o defende e compartilha como um religioso fanático, tentando aumentar a confirmação dos outros em algo que no fundo sabe que é ruim.

Entrega de comida, assinaturas (streaming, aplicativos), jogos, pornografia, tudo isso gera uma dependência similar a de um viciado em drogas, que faz de tudo para conseguir manter o seu estado (e para se afundar mais). Comprar servidão significa pagar (e cada vez mais) para se manter dependente e posteriormente um escravo do que comprou.

O cidadão normal não rouba igual a um viciado, mas precisa achar outras formas de conseguir se manter. Se submeter a uma universidade, posteriormente a um patrão, parece ser o caminho de menor fricção e o mais “seguro” (nem tão seguro assim).

Não há nada de errado em trabalhar para outra pessoa, errado é você estar fazendo isso sem intencionalidade. Se você trabalha para bancar futuros empreendimentos, sustentar sua família, fazer uma compra específica, investir em você mesmo, resumindo, se você destina o dinheiro ganho a reduzir a sua dependência, não há motivos para se sentir mal por trabalhar para outro.